“Não à política de despejo dos governos; moradia digna para todos os trabalhadores”
Nesta semana em que diversas rodovias foram paralisadas pela Resistência Urbana da qual faz parte o Movimento dos Trabalhadores sem-teto, o Causa Operária entrevista Guilherme Simões, membro da coordenação estadual de São Paulo do MTST
Causa Operária – Nesta última semana o MTST organizou uma jornada de lutas em todo o País. Você pode comentar as principais reivindicações?
Guilherme Simões - Primeiro é preciso dizer que a jornada nacional contra os despejos não foi feita só pelo MTST, mas pela Resistência Urbana – Frente Nacional de Movimentos, presente em 11 estados do Brasil além do DF. Nossas principais reivindicações nessa jornada (que faz parte de uma campanha permanente, denominada “Minha Casa, Minha Luta”) são pela imediata interrupção da política de despejos levada a cabo pelos governos; pela garantia de moradia digna para todos os trabalhadores; pelo fim à repressão e criminalização da pobreza; por uma política nacional de desapropriações e de combate à especulação imobiliária; por uma política de construção de moradias populares com subsídio integral, com qualidade habitacional e com a gestão direta dos empreendimentos e finalmente por uma reforma urbana popular.
Causa Operária – Há um aumento dos despejos? Qual o motivo?
Guilherme Simões - A principal causa do processo de despejos em curso no Brasil é o crescimento da especulação imobiliária que é uma forma de enriquecer empresários da construção civil e proprietários de grandes latifúndios urbanos. Para esses setores é necessário que haja uma política na qual o estado não permita a concentração de trabalhadores morando em áreas que podem ser valorizadas. O auge dessa submissão do estado aos interesses da burguesia será a Copa de 2014 e as olimpíadas de 2016, eventos que exigem obras faraônicas que farão a alegria das construtoras e a tragédia para a classe trabalhadora sob a forma de milhares de despejos.
Causa Operária – A repressão às ocupações aumentou no último período? A que vocês atribuem este aumento da perseguição aos movimentos populares?
Guilherme Simões - A criminalização é uma tendência não só para os movimentos populares, mas para todas as organizações da classe trabalhadora. Estamos diante de um momento delicado, no qual apesar de não estarmos na plenitude de nossas forças viemos crescendo e nos tornando, de alguma forma, uma ameaça para a especulação imobiliária que é um setor importante do capitalismo brasileiro. Reprimir movimentos de luta por moradia que tem uma perspectiva revolucionária (assim como o movimento sindical classista) significa dar um recado aos trabalhadores, mas por outro lado revela-se a fragilidade de um momento anterior, no qual os trabalhadores estavam quase que irremediavelmente estagnados pela “vitória da esperança contra o medo”. Fazer ocupações, assim como promover greves, etc, é abrir uma fenda numa conjuntura que é desfavorável.
Causa Operária - Há casos de companheiros presos e assassinatos na luta por moradia? Pode relatar?
Guilherme Simões - Há um caso emblemático que é o do Gegê em São Paulo, preso e condenado pela justiça. Mas também existem outros casos, muito pouco conhecidos como aconteceu recentemente no Rio de Janeiro na ocupação Serra do Sol do MTST, na qual os companheiros Pepé e Oséas foram brutalmente assassinados na tentativa de inibir a organização e a luta dos trabalhadores sem-teto.
Causa Operária - A questão da habitação é muito grave no Brasil. A especulação dos bancos no setor de habitação e a especulação imobiliária pelas grandes construtoras é imensa. Quais as medidas adotadas pelo movimento para se opor a isso?
Guilherme Simões - Não há outra forma de combater a burguesia que não lutar diretamente contra ela e contra seus representantes (o Estado), por isso fazemos ocupações de grandes terrenos utilizados pela especulação, organizamos e colocamos em luta milhares de famílias e procuramos estar próximos à grandes rodovias, utilizadas pelo capital para circulação. Não aceitamos nos submeter ao estado e a instrumentos institucionais que prejudicaram e até destruíram movimentos importantes na luta por moradia.
Causa Operária – Qual a principal crítica ao programa do governo Lula com relação a habitação?
Guilherme Simões - O Minha Casa Minha Vida é uma política clara! Socorre os empresários da construção civil ameaçados pela crise internacional. Só nessa primeira fase foram cerca de 34 bilhões colocados à disposição das construtoras; 18 milhões de famílias cadastradas para um milhão de casas, sendo que somente 400 mil são destinadas à famílias com renda de 0 a 3 salários. Isto significa que esse projeto não passa de enganação, pois mais de 17 milhões de famílias não terão acesso à moradia. Além disso, as construtoras priorizam construções para a classe média que trazem mais lucro. O MCMV trará grande frustração para os trabalhadores e isso poderá servir para desmistificar o governo Lula.
Causa Operária – Após algumas horas da ocupação do Ministério das Cidades, uma comissão do movimento foi recebida pelo governo. Como foi a negociação e em quais pontos o governo cedeu a pressão da ocupação e das rodovias paradas?
Guilherme Simões - Nessa negociação levamos as pautas de diversos movimentos e estados, sendo que o Ministério das Cidades foi obrigado a intervir nas negociações a nível estadual e municipal seja para evitar despejos, como no caso das ocupações Dandara, Camilo Torres e Irmã Dorothy de Belo Horizonte, seja para acelerar a assinatura de contratos de construção de moradias, como da ocupação Zumbi dos Palmares em Sumaré/SP ou mesmo para liberar áreas federais para construção como em Brasília, na ocupação Bela Vista. Bloquear rodovias tem sido um meio de luta ofensivo, que mostra a perspectiva de ação direta e de enfrentamento dos Movimentos populares contra o estado e o capital.
Causa Operária – Quais as perspectivas para o próximo período?
Guilherme Simões - Como disse, o MCMV trará frustração e o próximo governo não terá o arsenal que Lula teve. Faremos mais ocupações com a perspectiva de organizar mais trabalhadores nas periferias metropolitanas e tornar-se referência de luta. A tendência dos movimentos populares mais combativos como os da Resistência Urbana é de crescer. Consideramos também fundamental a aliança estratégica com o movimento sindical.
Causa Operária - Nesta mesma semana ocorreu um debate protesto dos candidatos à Presidência da República do PCO, PSTU e PCB contra a proscrição da esquerda nas eleições. Em sua opinião, é possível uma relação no sentido de aglutinação das forças da esquerda e do aprofundamento das lutas dos movimentos populares?
Guilherme Simões - Não só é possível como fundamental. Se construirmos a unidade teremos um desafio imenso pela frente, entretanto sem ela o fracasso é certo.
Causa Operária – No debate foi apontada a questão da tentativa da burguesia de tirar a esquerda nas eleições como um atentado contra todo o povo e um sinal de que a direita prepara uma ofensiva com o aumento da repressão a luta pela terra, a luta dos estudantes entre outros. Qual a sua opinião sobre esta análise e o impacto desta política da direita na luta por moradia?
Guilherme Simões - A burguesia vive um momento no qual já não pode resolver conflitos por meio do consenso. Esse ciclo se encerra com o governo Lula. Agora os ataques tendem a crescer na medida em que nossas lutas se tornam constantes. Nossa resposta só pode ser a unidade e a ofensiva. O tempo de adotarmos uma postura defensiva está acabando. Trata-se agora de juntar forças e atacar com ocupações urbanas e rurais; greves; mobilização estudantil e todos os meios que dispusermos.
Causa Operária – Gostaria de fazer alguma consideração final?
Guilherme Simões - Obrigado pelo espaço que o PCO dispõe para a luta dos movimentos populares. Essa iniciativa demonstra um esforço pela construção de unidade entre os setores organizados da classe trabalhadora. Esperamos contar sempre com esse espaço e continuar fazendo lutas que possam justificá-lo.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Quatro rodovias fechadas por sem-teto
Nesta quarta-feira, dia 22, manifestações do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) interditaram quatro rodovias de São Paulo para chamar a atenção para a questão do descaso do governo com a moradia.
O eixo do protesto é contra despejos e remoções para as obras da Copa de 2014. Foram ocupadas e paradas Régis Bittencourt, Rodoanel, Anhanguera e Raposo Tavares.
Milhares de pessoas participam da manifestação. Foi interditada a rodovia Anhanguera na altura de Campinas. O protesto é parte de uma mobilização nacional.
O protesto iniciou por volta das 10h e parou totalmente a rodovia. Com a repressão policial, uma parte foi liberada.
Estas manifestações são expressão de uma mudança na situação política que tende a se aprofundar no próximo período com o aumento da crise no regime.
O eixo do protesto é contra despejos e remoções para as obras da Copa de 2014. Foram ocupadas e paradas Régis Bittencourt, Rodoanel, Anhanguera e Raposo Tavares.
Milhares de pessoas participam da manifestação. Foi interditada a rodovia Anhanguera na altura de Campinas. O protesto é parte de uma mobilização nacional.
O protesto iniciou por volta das 10h e parou totalmente a rodovia. Com a repressão policial, uma parte foi liberada.
Estas manifestações são expressão de uma mudança na situação política que tende a se aprofundar no próximo período com o aumento da crise no regime.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
São Paulo: sem-teto realizam protesto contra governo estadual
Um grupo de sem-teto ocupou nessa quarta-feira, 22, a Rodovia Régis Bittencourt, bloqueando os dois sentidos da via, segundo informou a Polícia Rodoviária Federal.
Os manifestantes bloquearam a via ateando fogo em pilhas de pneus, localizadas na altura do km 269, na região de Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo.
Os sem-teto são um dos setores mais atacados pelos governos burgueses. Em São Paulo tanto o governo como a prefeitura, ambos do DEM e PSDB, não realizaram nenhuma política que de fato atenda as demandas dessa parcela explorada da população, pelo contrário. A quantidade de pessoas sem casa só vem aumentando. Não existe nenhuma política de moradia, apenas ataques. São, nesse sentido, cúmplices dos petistas que tanto atacam
A manifestação é mais uma demonstração de que a população não está disposta a aturar os ataques dos governos burgueses. Trata-se de uma manifestação contra os governos da burguesia, contra o poder dos patrões, que em São Paulo levam adiante uma política de extermínio da população trabalhadora.
Os manifestantes bloquearam a via ateando fogo em pilhas de pneus, localizadas na altura do km 269, na região de Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo.
Os sem-teto são um dos setores mais atacados pelos governos burgueses. Em São Paulo tanto o governo como a prefeitura, ambos do DEM e PSDB, não realizaram nenhuma política que de fato atenda as demandas dessa parcela explorada da população, pelo contrário. A quantidade de pessoas sem casa só vem aumentando. Não existe nenhuma política de moradia, apenas ataques. São, nesse sentido, cúmplices dos petistas que tanto atacam
A manifestação é mais uma demonstração de que a população não está disposta a aturar os ataques dos governos burgueses. Trata-se de uma manifestação contra os governos da burguesia, contra o poder dos patrões, que em São Paulo levam adiante uma política de extermínio da população trabalhadora.
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